sábado, 1 de junho de 2013

Um sarau no século XXI


Objetivos 

Produzir um soneto e perceber a poesia como forma de expressão dos sentimentos e experiências de vida

Introdução 
Neste centenário da morte de Machado de Assis, VEJA publica uma série de textos de leitura obrigatória, ponto de partida ideal para que os jovens conheçam melhor o romancista, contista, cronista, dramaturgo e poeta que é considerado, com razão, "o mais universal dos escritores brasileiros". Como mostram as ilustrações deste plano de aula, seus romances e contos inspiraram muitos cineastas. Que tal usar a revista e este Guia do Professor como bases para a descoberta do Machado poeta? Esse é um lado relativamente pouco explorado da gigantesca obra do autor e pode ser um estímulo para a classe: afinal, os primeiros versos de Machado foram publicados aos 16 anos — a idade de seus alunos.

Atividades 
1ª aula - Conte que o poema Ela, com que Machado estreou na literatura, veio a público em 1855, impresso na revista Marmota Fluminense. O primeiro livro de poesias, Crisálidas, viria nove anos depois. Ao todo, Machado publicou quatro livros de poemas. O de estréia e Falenas (1870) evidenciam nítida influência de Castro Alves, com alguma pregação dos ideais de liberdade. A temática de Americanas (1875) aproxima-se da de José de Alencar, enquanto em Ocidentais (1901) o autor já mostra elementos do realismo: ironia, niilismo e recuperação do tempo perdido.

Distribua cópias do último poema de Machado de Assis ("Soneto à Carolina", abaixo), o belo soneto escrito quando o escritor perdeu a companheira, Carolina Novais, em 1904. Ele simplesmente desmoronou, a ponto de desabafar: "Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo [...] Aqui me fico, por ora, na mesma casa, no mesmo aposento, com os mesmos adornos seus. Tudo me lembra a minha meiga Carolina".
Para seus alunos Soneto à Carolina
Machado de Assis, 1904

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores — restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
Faça com que os adolescentes explorem os aspectos estruturais do soneto, como o número de versos e sua distribuição em estrofes. Ensine que há diversos tipos de poemas que apresentam uma estrutura fixa de construção. Entre eles destaca-se o soneto, em que os versos são agrupados em duas quadras e dois tercetos. Essa forma poética fixa geralmente desenvolve uma idéia até o penúltimo verso e, no último, considerado chave de ouro, apresenta uma síntese do tema. Solicite à classe que verifique a ocorrência da chave de ouro nesses versos de Machado.

Explique que rima e métrica são dois elementos formais que contribuem para a obtenção de ritmo no poema. A métrica é a medida dos versos, isto é, o número de sílabas poéticas de um verso. É importante que a garotada perceba, no entanto, que o conceito de sílaba poética não coincide com o de sílaba gramatical. Sugira a leitura de Soneto à Carolina em voz alta pela classe, batendo palmas ou tamborilando os dedos sobre as mesas e sentindo o ritmo.

Ensine que o modelo do soneto clássico foi fixado por vários escritores: o italiano Petrarca; o inglês, Shakespeare) e o português, Camões. São versos decassílabos, com dez sílabas poéticas. Sugira que os estudantes investiguem a organização das rimas. No soneto clássico, elas seguem um padrão: são interpoladas nos quartetos, conforme o esquema ABBA, e cruzadas ou alternadas nos tercetos, seguindo o esquema CDC/DCD. E pergunte: afinal, Soneto à Carolina segue os moldes de um soneto clássico?

2ª aula - Apresente à turma um desafio poético: a produção de um soneto no padrão clássico, como expressão de sentimentos pessoais, com vistas a um interlocutor real ou imaginário.

Após a produção do poema e antes de aperfeiçoá-lo, proponha que os alunos troquem os textos entre si e façam comentários por escrito abordando a forma e o conteúdo. Garanta que cada "poeta" receba pelo menos dois comentários dos colegas.

3ª aula - Sugira a organização de um sarau em homenagem a Machado de Assis. Pergunte quem já participou de uma ocasião assim e peça que conte como funciona. Explique que a palavra tem origem no termo latino serus (relativo ao entardecer), por isso é um evento cultural ou musical realizado ao cair da tarde ou no início da noite, no qual as pessoas se encontram para se expressar artisticamente. Esse tipo de reunião pode incluir dança, poesia, leitura de livros, música acústica e outras formas de arte como pintura e teatro. E, em nossos dias, também cinema — que tal exibir filmes feitos a partir de romances e contos de Machado de Assis? Em resumo, trata-se de uma excelente oportunidade para ampliar o repertório cultural da turma e criar um espaço para revelar o talento daqueles que desejarem declamar os poemas de escritores consagrados ou mesmo os sonetos que produziram e aperfeiçoaram.

Divida a classe em grupos e encarregue-os de escolher mais poemas de Machado para serem declamados. Vale pesquisar também outros sonetistas célebres da língua portuguesa: Camões, Antero de Quental, Bocage, Gregório de Matos Guerra e Vinícius de Moraes. Motivados, as idéias surgirão para a organização da noitada!

Verifique a possibilidade de envolver a comunidade escolar no evento, incluindo classes, professores, funcionários e familiares.

Peça a um grupo que se encarregue de preparar cartazes e convites informando o tema do sarau, data, horário e local de realização, para espalhar pela escola e enviar às famílias.\

Retirado do site: http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/sarau-seculo-xxi-501998.shtml. (Acessado em 26.maio.2013)

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