Walcyr Carrasco é escritor, dramaturgo
e autor de telenovelas, nascido em Bernardino de
Campos (SP) em 1951. Formado em Jornalismo, trabalhou nos principais órgãos de
imprensa do país e, no momento, escreve crônicas na revista Veja São Paulo,
além da novela Morde & Assopra. Recentemente, lançou o livro Laís, a
Fofinha, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (SP), sobre uma menina gordinha que
sofre com gozações e apelidos dos colegas de escola. Confira na entrevista a
seguir como o autor acredita que a literatura possa combater o bullying e
elevar a autoestima das crianças.
Como a literatura infantil pode ajudar a
aumentar a autoestima das crianças?
Walcyr Carrasco – Acredito que a literatura infantil contribua para aumentar a
autoestima das crianças de duas formas: primeiro a partir de uma condição
íntima, em que a criança se relaciona com a história e com os personagens e
absorve a experiência retratada.
A partir daí, tira suas próprias conclusões e cresce
interiormente. Em segundo lugar, temas ricos proporcionam debates ricos, não
somente orientados pelo professor, mas também entre os alunos, que compartilham
a história narrada no livro. Acredito que seja o caso de Laís, a Fofinha, pois
a questão do ser ou não gordo e da forma física ideal hoje é uma preocupação de
todas as idades, e a criança considerada acima do peso frequentemente sofre
bulying. A discussão do tema pode evitar o bulying.
Como os livros podem conscientizar as
crianças desde cedo sobre bullying ou problemas da obesidade?
Walcyr Carrasco – À medida que a história é debatida, conceitos e valores são
revistos. Hoje em dia muitas crianças são submetidas pela mídia e até pela
própria família a padrões estéticos que, de fato, pouquíssimas pessoas atingem.
Essa cobrança generalizada também se expressa por meio de agressões a colegas
que são vistos como obesos. A criança obesa acaba se retraindo, achando que é
"errada". O fato de um livro propor a discussão aberta e mostrar que
esses padrões nem sempre são os desejados pela mídia pode ajudar a reconstrução
de valores.
"Ouvir uma história é
sempre agradável, e as crianças devem entender a literatura como algo prazeroso
e não como obrigação."
Como os professores devem agir ao perceber
um caso de bullying ou de baixa autoestima nos alunos?
Walcyr Carrasco – Acredito que o professor deva agir com sutileza, propondo a
discussão dos temas e valorizando pessoas de sucesso que não correspondem a
padrões. Nesse sentido a literatura ajuda muito, pois funciona como ponte para
abrir a discussão em cima de temas polêmicos. A criança com baixa autoestima
deve ser valorizada de alguma maneira. O professor pode buscar os aspectos em
que ela é mais positiva e estimulá-los. O fundamental é mostrar aos alunos por
meio da Literatura, de discussões em classe e trabalhos escolares que a
diferença é essencial, e não um problema.
Como conversar com os alunos após grandes
tragédias em escolas, como os crimes ocorridos em abril no Rio de Janeiro? A
literatura infantil pode ajudar nesses casos também?
Walcyr Carrasco – Lidar com tragédias sempre é difícil. A literatura ajuda até
porque os contos de fadas tradicionais falam da violência de uma forma
alegórica, que torna mais fácil ao aluno compreender. Mas é preciso ser claro
em relação a valores e buscar formas de expressão, em que as crianças possam,
pintando, desenhando, escrevendo, fazendo música, "soltar" a
agressividade sem prejudicar o próximo. Mas não sou otimista. Minha convivência
com uma psiquiatra especializada em psicopatas me diz que a psicose não tem cura.
Começa a se evidenciar na infância e é muito difícil lidar com isso, quando o
problema é realmente uma doença mental.
O livro foi lançado como parte do projeto
cultural Lê Pra Mim ?
Qual a importância de pais e professores lerem para os alunos ainda não
alfabetizados?
Walcyr Carrasco – Fundamental! É uma oportunidade para a criança conviver com a
literatura desde cedo. E mesmo já alfabetizada, de sentir a literatura como uma
forma de compartilhar experiências. Além de tudo, ouvir uma história é sempre
agradável, e as crianças devem entender a literatura como algo prazeroso e não
como obrigação.
Como os livros podem competir com outras
formas de entretenimento, como a televisão, o videogame e a internet?
Walcyr Carrasco – Nunca vi problema nesse sentindo. Não há uma competição. Cada um
tem seu fator de atração. Os livros muitas vezes perdem espaço simplesmente
porque são apresentados como algo obrigatório. Não se dá à criança o espaço
para viver uma experiência agradável, já que o livro muitas vezes está
vinculado a trabalhos escolares, a avaliações, enquanto os outros meios são
simplesmente lazer. Quanto mais a criança sentir que o livro é uma experiência
de prazer, mais vai gostar de ler.
"O fundamental é mostrar
aos alunos por meio da literatura, de discussões em classe e trabalhos
escolares que a diferença é essencial, e não um problema."
Retirado do site: http://revistaguiafundamental.uol.com.br/professores-atividades/88/artigo227002-1.asp. (Acessado em 26.maio.2013)
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